Por James Revolti
A nossa primeira coluna Clã Dark Castle é dedicada ao jogo brasileiro estrelado por Chapolin Colorado, o atrapalhado herói mexicano criado por Roberto Gómez Bolaños.

O Polegar Vermelho é um grande sucesso no Brasil desde que estreou no SBT em 1984 ao lado do seu coirmão, “Chaves”.
No começo dos anos 90, as duas séries viviam o seu auge de audiência e popularidade entre as crianças brasileiras.
Além de dezenas de novos episódios estreando na TV, muitos produtos foram lançados: gibis, álbuns de figurinhas, um disco e até mesmo um óculos-canudo.

Entre esta profusão de itens com a marca dos personagens, um se destacou: o primeiro jogo de videogame estrelando um personagem mexicano, “Chapolim vs. Drácula: Um duelo assustador”.
E AGORA? QUEM PODERÁ NOS AJUDAR?
Naquela época, a indústria de games ainda engatinhava. Desenvolver e lançar um jogo era muito caro e não havia espaço para a variedade de desenvolvedores e projetos menores que existem hoje em dia.
No Brasil, a situação era ainda mais difícil. Com a Lei de Reserva de Mercado em vigor, a pirataria rolava solta. E era difícil competir com consoles e jogos vendidos a preços baixos, que não precisavam pagar royalties aos criadores e nem passar por um controle de qualidade muito exigente.
Para enfrentar a concorrência, a Tec Toy – que lançou oficialmente os videogames da Sega por aqui – precisou de criatividade. Com campanhas de marketing agressivas, inserções na programação da TV e um ótimo trabalho de pós-venda, a empresa conseguiu 80% do mercado de consoles de 8 bits do país com o Master System.

Outra estratégia da empresa foi diversificar a biblioteca de jogos incluindo personagens brasileiros ou que tivessem muito apelo no Brasil. Como o custo de produção de um jogo do zero era proibitivo, a Tec Toy encontrou uma solução prática: adaptar jogos estrangeiros e substituir os personagens originais por versões brasileiras.

O primeiro deles foi “Mônica no Castelo do Dragão”, em 1991. Adaptado a partir de “Wonder Boy in Monster Land”, o novo jogo trouxe a popular garota dentuça dos quadrinhos de Mauricio de Sousa para a tela do videogame.
A empreitada deu muito certo, o cartucho vendeu horrores e abriu espaço para novos projetos.
UM JOGO COM SABOR DE TAMARINDO

Para a segunda adaptação, a Tec Toy escolheu justamente o Chapolin.
Foi a primeira e provavelmente única vez onde um jogo do Japão foi adaptado para o público do Brasil usando um herói do México. A experiência é tão singular quanto um suco de limão que parece groselha e tem gosto de tamarindo.

A nova nacionalização seria feita a partir de Ghost House, lançado em 1986. Vagamente baseado no arcade Monster Bash, o jogo foi lançado no formato Sega Card, um cartãozinho compatível com o Master System, mais barato e indicado para jogos pequenos.

Nenhum desses Sega Cards foi lançado no Brasil, mas a Tec Toy chegou a vender alguns destes jogos em formato de cartucho. O próprio Ghost House foi lançado em 1991.

Neste novo projeto, a Tec Toy preferiu um jogo mais simples, pois seria mais barato produzir e o investimento seria menos arriscado.
Isso aconteceria também em empreitadas futuras como Geraldinho (feito a partir de Teddy Boy) e Sapo Xulé: O Mestre do Kung Fu (baseado em Kung Fu Kid).

O design de arte de “Chapolim x Drácula” ficou a cargo de Alexandre Pagano e a programação por conta do departamento de engenharia da Tec Toy, que na época era tocado por Claudio Oyamaguchi, Mauricio Guerta e outros.
A arte do jogo seguia o model sheet definido para guiar os produtos licenciados do personagem.

Pagano contou que chegou a fazer o logo do Chapolin com N na tela inicial, mas foi obrigado a revisar e colocar o M para padronizar com os outros produtos da marca. (Isso pode ser conferido nesta entrevista aqui).

O processo de programação era bem mais complicado do que pode parecer inicialmente.
Sem apoio da Sega e sem o código-fonte original, coube à equipe de Tec Toy fazer uma engenharia reversa em “Ghost House” de forma a extrair todo o conteúdo em código binário. A partir daí, o código era analisado para identificar onde estavam as telas, texto e sprites que deveriam ser substituídos.

O software para criação dos sprites e arte do jogo também precisou ser desenvolvido pelo departamento de engenharia.
Uma melhoria evidente da adaptação é a quantidade de telas de arte disponíveis no jogo. Como o chip de memória de 1 Megabit na época custava o mesmo que os de 256 Kbits (tamanho original de Ghost House), o jogo do Polegar Vermelho pôde contar com espaço extra para a inclusão de novas telas.
“Chapolim x Drácula: Um duelo assustador” chegou às lojas no primeiro semestre de 1993. Não teve o mesmo impacto dos jogos da Mônica – que eram versões dos então inéditos “Wonder Boy”, bem mais complexos do que “Ghost House” -, mas fez história mostrando que as nacionalizações davam resultado e continuariam vindo com força total.

E você? Já jogou o jogo do Chapolin? Preferia jogar o jogo do Pelé?
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