Todo jogador de videogame acaba criando uma conexão especial com certos jogos. As narrativas envolventes e mecânicas únicas fazem com que nos liguemos emocionalmente a essas obras. Para mim, um dos jogos que ocupa esse lugar especial é Resident Evil 4. Cresci jogando a franquia de survival horror da Capcom ao lado do meu pai, com uma revista de detonados dos quatro primeiros jogos numerados sempre por perto.
Hoje, 11 de janeiro, Resident Evil 4 completa 20 anos, e esse marco não é importante apenas para mim, mas também para toda a indústria dos games. É provavelmente o título mais popular da franquia, graças aos inúmeros ports que o tornaram acessível a diversos jogadores e por sua influência na criação de sistemas e mecânicas que se tornaram padrão em muitos outros jogos. A câmera sobre o ombro, por exemplo, é um legado amplamente adotado em títulos como The Last of Us, Fortnite e Alan Wake.
Lembro com carinho da primeira vez que joguei Resident Evil 4. Foi no mesmo dia em que comprei meu PlayStation 2, e o título criado por Shinji Mikami foi um dos primeiros que quis experimentar. Após anos jogando a trilogia clássica no PS1, era hora de explorar a nova geração. Fiquei fascinado com o visual renovado de Leon, os gráficos impressionantes e os novos inimigos – que, na época, eu nem chamava de Ganados e sequer me atentava à trama. O que me prendia eram as mecânicas inovadoras e imersivas.
Desde então, finalizei o jogo mais de 20 vezes e joguei em quatro gerações diferentes de consoles – obrigado, Capcom, por disponibilizá-lo em tantas plataformas. É impossível falar de Resident Evil 4 sem mencionar sua influência na indústria e seu impacto em outras franquias.
As origens e a influência de Resident Evil 4
No início, Resident Evil 4 estava sob a direção de Hideki Kamiya, responsável por Resident Evil 2. A ideia inicial era criar um jogo ambientado em um castelo gótico europeu, com um protagonista de cabelos brancos e superpoderes. No entanto, Shinji Mikami percebeu que o conceito não se encaixava na franquia, mas tinha potencial para se tornar algo novo. Assim nasceu Devil May Cry, um dos maiores hack’n’slash da história. Elementos como cenários, progressão de fases e até trilhas sonoras mostravam as raízes compartilhadas entre os dois jogos.
Outra versão descartada de Resident Evil 4, chamada “Hallucination”, envolvia Leon infectado, enfrentando alucinações e interagindo com uma garota e seu cachorro – um conceito que mais tarde se transformou no cult Haunting Ground. A jovem se tornou Fiona, o cachorro virou Hewie, e o jogo ganhou uma narrativa mais sombria, explorando alquimia e temas de objetificação feminina.
O impacto em jogos futuros
A popularização da câmera sobre o ombro por Resident Evil 4 influenciou diretamente jogos como Dead Space, Cold Fear, The Last of Us e até mesmo God of War. Além disso, a dinâmica de parceria entre Leon e Ashley serviu de inspiração para a relação de personagens em muitos jogos posteriores, reforçando a importância da interação entre protagonistas e NPCs.
Agora, duas décadas após seu lançamento, vemos Resident Evil 4 não apenas como um inspirador, mas também como uma obra que se reinventa. O remake lançado em 2023 trouxe novas mecânicas, como o parry, inspirado em jogos de luta e na série Soulsborne, e um sistema de seleção de armas mais dinâmico, semelhante ao de The Last of Us.
Conclusão
Com 20 anos de história, Resident Evil 4 completou um ciclo de influenciar e ser influenciado por outros jogos. Este quarto título não apenas abriu as portas para muitos entrarem na franquia, mas também ajudou a moldar a forma como os videogames são criados e apreciados. Para mim, ele foi o jogo que mostrou o potencial dos survival horrors e o quão apaixonantes os videogames podem ser.